A Polícia Militar da Bahia  acabou de promover um grupo de oficiais, após a interrupção de alguns meses na periodicidade das promoções. Tenentes promovidos a capitães, capitães a majores, majores a tenente coronéis e tenente coronéis a coronéis. Trata-se dum momento ímpar para aquele que é promovido, e, de certo modo, frustrante para aquele que esperava a promoção que acabou não ocorrendo, afinal, mesmo com vagas em aberto, o estado dificilmente (ou nunca) promove no ritmo de suas necessidades funcionais e de valorização.
Ao parabenizar um amigo pela nova jornada hierárquica que a partir de então iria assumir, ele confidenciou-me que “após 10 anos no mesmo posto, mesmo trabalhando com satisfação, a promoção é algo que motiva a gente, que traz um alento, uma sensação positiva sem igual… seria importante termos mais momentos como esse em nossa vida profissional. Isso reflete em tudo, inclusive na produtividade!”.

Creio que a promoção não agrada o profissional apenas pela modificação salarial, mas também pelas novas funções que irá exercer, pelo valor simbólico de reconhecimento dos trabalhos e pela ascenção social que representa. Trata-se duma maneira legal e legítima de reforçar positivamente aqueles que se esforçam honestamente pela garantia da segurança pública, desenvolvendo diariamente soluções técnicas para a violência.
Se os oficiais reclamam pela descontinuidade nas promoções, as praças têm ainda mais motivos para isso. Existem soldados baianos que, com mais de vinte anos de serviço, nunca tiveram aquele prazer descrito pelo companheiro acima. Por uma série de distorções na criação e no descumprimento das leis por parte do estado, a ascenção profissional na PM da Bahia está prejudicada de maneira alarmante no quadro das praças.
Recentemente, fora realizado um concurso para sargentos, algo positivo, mas ainda pouco para comportar os policiais que têm década ou décadas de serviço, mesmo porque, passar num concurso concorrendo com PM’s recém ingressos na corporação é difícil para aqueles que vivem uma dinâmica alheia aos estudos, já dedicados aos desafios familiares.
Mas este é apenas um problema na multiplicidade de fatores que se impõe a quem tenta estudar as questões de ascenção profissional na PM baiana. Pergunta-se onde estão as promoções para a recém-criada graduação de cabo, reclama-se por aqueles que, por terem muitos anos de serviço, deveriam ser diretamente promovidos a sargento, e não a cabo. Outros se insurgem contra a pouca diferença de salário entre as graduações.
Dentro dessa gama de interesses e (des)entendimentos sobre qual deve ser a política de carreira da Corporação, o certo é que as leis vivem sendo descumpridas por quem deveria por elas zelar: o próprio estado. Eis a grande distorção. Caso não ocorresse esta perversão, o salário seria melhor, mesmo não agradando a alguns, as promoções ocorreriam, mesmo com uma incongruência aqui e ali, enfim, a motivação, a produtividade, e, como dizia meu amigo, “a sensação positiva sem igual” estariam sendo geradas.
Que o estado cumpra as leis: este é meu pedido de aniversário pelos 186 da Polícia Militar da Bahia, comemorados no último dia 17. Será que é pedir muito?