quinta-feira, 16 de junho de 2011

Guincho e talão em falta: cidade tem só um reboque de carros e fiscais afirmam que multar é raro

Salvador tinha dez guinchos, mas por falta de pagamento agora só tem um para carros - batizado de G-único pelos próprios fiscais.


Caneta na mão de fiscal da Transalvador seria normalmente  sinal de multa à vista. Seria. Porque hoje em dia elas têm sido bem mais usadas pelos agentes para elaborar uma lista de itens em falta do que para aplicar penalidades.
Os números deficitários da Transalvador, revelados ontem pelo CORREIO, prejudicam as operações do órgão ao ponto de faltar na  cidade de guinchos a talões de multa.


Nas ruas, agentes sofrem com falta de talão e admitem ter que ‘escolher’ quais infrações multar
Os caminhões de reboque estão em falta desde outubro.  Há mais de sete meses, apenas dois guinchos do órgão operam: um para carros - batizado de G-único pelos agentes - e o outro para veículos pesados - caminhões e ônibus.
“O resultado é uma desordem com o desrespeito às leis. Somos obrigados a prevaricar (não cumprir o dever) porque há talão racionado. Já tem um semestre que os agentes são orientados a reduzir o número de notificações porque falta material. Você não pode fazer um registro porque não tem combustível, não pode rebocar um carro porque faltam guinchos”, denuncia a presidente da Associação dos Servidores da Transalvador (Astran), Mércia Arruti.

“É raro que a gente notifique infrações como uso de celular e falta do cinto de segurança”, afirma um agente que prefere não ser identificado.
A equipe de reportagem percorreu ruas da cidade para constatar irregularidades.

Na rua Direita da Piedade, um veículo foi flagrado sobre a faixa de pedestres e uma fila de carros estava estacionada em local proibido, atrapalhando o trânsito. “Cada veículo só tem direito a 12 litros para rodar o dia inteiro. O principal para o trânsito andar é a fiscalização, mas como vamos fazer?”,  questiona o fiscal.

Na avenida Estados Unidos, no Comércio, um agente tentava coibir o estacionamento irregular, mas, sozinho, era ignorado pelos condutores. “Não tem jeito. E nem tenho como notificar todo mundo porque preciso economizar o talão”, reforça.
SOLUÇÕES  O superintendente da Transalvador, Alberto Gordilho, que assumiu o cargo no começo do ano, explica que o órgão opera no limite - alguns meses com prejuízo de quase R$ 1 milhão - e reconhece as carências. Segundo ele, no entanto, os problemas já foram resolvidos.

“Temos déficit acumulado de R$ 22 milhões. Atendemos o presente e o passado. O problema dos guinchos, por exemplo, ocorreu por falta de recursos. Desde outubro os veículos foram retirados de circulação por falta de pagamento. Mas, até o final desta semana, pelo menos mais cinco reboques estarão em operação”, assegura ele.
Na Rua Direita da Piedade, placa de proibido estacionar é ignorada
A empresa que, segundo Gordilho, venceu a licitação e fornecerá os reboques - a Locadora de Veículos Ltda. - é a mesma que em outubro retirou os carros das ruas por falta de pagamento. Hoje, os dois que operam na cidade é por conta de um contrato emergencial com outra empresa.

Segundo Gordilho, a falta de talões também está solucionada. “Houve falta por causa da não renovação de contratos em tempo hábil. Fizemos licitação e na hora de entregar o material a empresa vencedora alegou que não daria conta. Só a 4ª colocada na licitação fez o serviço”, explica o gestor.

Em relação ao combustível, o superintendente afirma que os 12 litros - que permitiriam a cada carro rodar cerca de 120 quilômetros diários - são suficientes. “Dentro da área de atuação, dá. Se foge a isso, reconheço que é pouco”, afirma Gordilho. A Transalvador não informou o número de veículos rebocados em 2011.
Na mesma rua, motorista parou em cima da faixa de pedestres
Agentes vão ter auxílio de psicóloga Preocupado com as consequências que os problemas da Transalvador geram na própria equipe, o superintendente Alberto Gordilho anunciou que os agentes vão ter auxílio de uma psicóloga. “A gente percebe que os agentes estão sem estímulo por causa de uma série de deficiências. Vamos contratar uma psicóloga para trabalhar a motivação de pessoal com oficinas de reciclagem”, afirma. Uma das carências dos fiscais, no entanto, não é nada psicológica. Trata-se do ticket alimentação, que não é pago desde outubro. “Estamos atentos a todas as questões. Os tickets estão sendo pagos, mediante acordo com os servidores”, ressalta Gordilho. A Astran promete fazer uma paralisação no próximo dia 21 em protesto pelas más condições de trabalho.

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