quarta-feira, 18 de maio de 2011

‘Gorda’ não perdoa: traficante manda matar até aliados que ameaçam deixar a quadrilha

Criminosa é acusada de mandar matar pelo menos 30 pessoas no Subúrbio Ferroviário


De vestido estampado coladinho, lentes de contato verdes, aplique com mechas castanhas na cabeleira e um sorriso enfeitado por um dente de prata, a traficante Maria Lúcia dos Santos Gomes, a Nem Gorda, é uma personagem contraditória do Subúrbio Ferroviário.

No Alto do Tanque, em Periperi, ela impõe sua autoridade  de duas formas. A primeira, como líder do temido Bonde da Nem,  grupo de extermínio autor de pelos menos 30 homicídios cometidos nos últimos 11 meses. Nem Gorda mata também os comparsas que querem deixar o grupo. Ela atua ainda em Plataforma, Rio Sena e Alto do Cruzeiro.  

A segunda forma é assumindo o papel de líder comunitária, festeira e bem articulada com artistas e políticos. Nem Gorda foi cabo eleitoral do vocalista Flávio Lima Santos, o Flavinho, dos Barões, e tem foto ao lado do deputado estadual Deraldo Damasceno (PSL), ex-delegado da 5ª Delegacia, em Periperi.
Na cúpula do Bonde da Nem, formado por 20 pessoas, o comando é feminino. A linha de frente é composta por adolescentes. Eles são os soldados , olheiros e aviõezinhos. Com a prisão de Nem Gorda, no domingo, a polícia acredita que o comando da quadrilha será assumido por seu marido, Alex Brito das Neves, o Grilinho, que está foragido.

Gorda’ é acusada de mandar matar pelo menos 30 pessoas no Subúrbio Ferroviário
A Gorda é extremamente perigosa. A quadrilha aterroriza e quer expandir, tomar bocas de rivais”, disse o delegado titular da 5ª Delegacia, Antônio Carlos Magalhães. A agressividade levou à morte a irmã de Nem Gorda, Elieci dos Santos, 40 anos, uma das líderes da quadrilha. Ela foi executada por traficantes  de Paripe em 16 de abril por tentar expandir os domínios da irmã para o bairro.

Armamento 
O quartel fica no Alto do Tanque.  A quadrilha circula com armas que incluem pistolas, fuzis e revólveres. Os testes das armas eram feitos na casa de Elieci. A casa da filha de Gorda, Tatiane, a Tetém, funciona como local de reunião. Tatiana é casada com Deivison da Conceição, 21 anos, o Lincoln, preso no domingo junto com a chefe.

Na base da organização estão os exterminadores - Neizinho, Gago, Lincoln, Fofão, Papi, Perigoso, Alisson Negão, Murilinho Avatar. Eles são comandados por Grilinho. O bando vende maconha, cocaína e crack nas localidades de Bambu, no Alto do Cruzeiro, Praia de Periperi, Alto do Tanque e Rio Sena. Segundo moradores da localidade, a boca do Alto do Tanque fica em um terreno baldio conhecido como Dona Margarida.

A chefona tem oito veículos em seu nome - um Fiat Stilo, apreendido pela polícia, um Corsa e seis motos Honda. No nome do marido, Grilinho, há duas motos da mesma marca. Os veículos são disfarçadamente usados como mototáxi, mas servem mesmo para entregar drogas e levar o bonde para as operações.
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“Nem Gorda fala para todo mundo: ‘quem vem contra mim cai’. Quem fica no caminho dela, ela manda o bonde pegar. Todo mundo sabe quem são os matadores”, diz  um parente de duas pessoas mortas pelo grupo. Nem os integrantes da quadrilha, ela perdoa. Na véspera de Natal do ano passado, Nem Gorda executou um dos seus soldados mais perigosos, o adolescente Danilo, o Pezão, por querer sair da quadrilha. No dia 6 de janeiro deste ano, matou um homem conhecido por Neném. O motivo foi o mesmo.

Festas 
Por trás da crueldade, há a líder comunitária festeira. Segundo denúncias, no dia 16 de janeiro deste ano, Nem Gorda fez uma festa no Alto do Tanque, regada a cocaína e com segurança feita por policiais militares armados. “Tem muito policial ligado a ela, cuida da segurança”, diz um morador. Na apresentação da traficante,  ela ameaçou falar o nome de policiais envolvidos com o tráfico.

Pagodeira, Nem Gorda faz lavagens e sambões no Alto do Tanque. Ela é fã declarada da banda Os Barões, que compôs a música que diz: “É gordinha, mas é gostosa”. A traficante foi cabo eleitoral do cantor do grupo, Flavinho, candidato a deputado estadual nas eleições do ano passado.
“Flavinho conheceu ela por um assessor, que disse que ela era líder de bairro. Ele ofereceu cestas básicas e padrão para o time do bairro em troca de votos”, afirmou a assessoria de imprensa do cantor.
Vingança acabou em prisãoA vida de Nem Gorda começou a se complicar quando ela resolveu assassinar Edvandro Conceição Lima, 22 anos, ex-integrante da quadrilha, em 1º de maio. A vítima assassinou Edvandro porque ele tem parentes policiais e a chefe desconfiou que ele seria um informante. Após o assassinato, no dia 10 de maio, policiais militares da 18ª Companhia, em Periperi,  mataram em combate os supostos autores, Álvaro Brito das Neves, 19 anos, o Alvinho, cunhado da traficante, Sérgio Breno Santos de Oliveira e Diego Ribeiro Damasceno de Souza, ambos de 17 anos.
Após o ataque da polícia, Nem Gorda suspeitou que a família de Edvandro deu informações sobre a localização de Alvinho e os demais comparsas para a polícia e resolveu se vingar. Por isso, ela mandou matar a tia do rapaz, Alaíde dos Santos, 70 anos, no sábado, em Praia Grande, com cinco tiros no tórax. No domingo, a polícia localizou o carro usado no crime, um Fiat Stilo, registrado no nome de Nem Gorda, e prendeu a traficante.  


Armas e drogas apreendidas em operação da Delegacia de Homicídios
A operação foi realizada por policiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, da 5ª Delegacia e 18ª Companhia, ambas em Periperi. Entre o material apreendido no local, estão 68 pedras de crack, um saco com pedras de crack pesando 51 gramas e um revólver 38, notebook e rádio comunicadores. O marido de Nem Gorda, Alex Brito das Neves, o Grilinho, conseguiu fugir. Um menor de 17 anos foi apreendido e encaminhado à Delegacia do Adolescente Infrator (DAI).

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