sexta-feira, 15 de abril de 2011

A profissão policial em essência

O trágico episódio no Rio de Janeiro me levou a uma profunda reflexão sobre a atividade policial. Hoje, padecemos de uma síndrome, inominada, quando acreditamos que determinadas ações policiais são dignas apenas de policiais de unidades especializadas.
A especialização policial, acredita-se, produz um policial apto a agir apenas em determinadas ações, e existe no imaginário popular, e até mesmo no público interno das diversas corporações policiais (principalmente após o filme “Tropa de Elite”), que há uma gradação entre policiais do policiamento ordinário e do policiamento especializado, até mesmo, em determinados momentos, com interpretações pejorativas a respeito do policial utilizado no policiamento ordinário.

O policial do trânsito (POTRAN), em que pese ser de um policiamento especializado, sofre bastante esta pejoração e, na concepção de alguns, é o policial mais contra-indicado para realização de uma abordagem a edificação, com fito de neutralizar uma ameaça advinda de um elemento armado, e, surpreendentemente, na tragédia do Realengo, uma guarnição POTRAN realizou a incursão, combateu e eliminou um marginal numa legítima e bem sucedida ação policial.
Surpreendente, para alguns! Na concepção correta de policiamento estamos todos aptos a combater, afinal a QM “COMBATENTE” não é uma nomenclatura meramente ostentativa, sem finalidade prática. Óbvio que não quero aqui menosprezar o trabalho das forças táticas que treinam com o fim de atendimento de ocorrências de alto risco. Apenas quero expressar que a atividade policial, em essência, não deve se restringir àquilo que erroneamente estão difundindo. O policial de especializadas deve sim ajudar ao cidadão idoso na travessia de uma rua, bem como o policial do policiamento ordinário deve combater, aplicando as técnicas de combate quando as condições exijam, e vice-versa. Não existe policial ‘strictu sensu‘! Somos todos a esperança da sociedade, quando a situação está caótica, ou algum leitor irá afirmar que o Sgt Alves, no comando da Guarnição POTRAN deveria dizer ao garoto ensanguentado, ferido pelo homicida: “Aguarda um minutinho, que somos policiais de trânsito; vou acionar o BOPE!”.
A sua atitude, POLICIAL, de deslocar a guarnição, foi fundamental para a neutralização do elemento homicida, em tempo hábil, antes que outros inocentes fossem vitimados, minimizando, se é que posso assim dizer, a tragédia que hoje nos assombra.
Como policiais, e sem paranóias, temos que estar aptos, pois isto é o mínimo que se espera de nós, ainda que boa parcela da sociedade nos ojerize, não tenhamos nossos salários proporcionais ao risco que corremos, com milhares de heróis anônimos que evitaram tragédias midiáticas e, por essa razão, permanecem anônimos, nos mais diversos rincões do nosso país, apenas desejando que a classe seja reconhecida.
Por fim, no momento em que se discutem melhorias para a classe policial nas diversas mobilizações pelo país, e nas já tão discutidas PEC’s, espero que o Sgt Alves, aproveitando o seu periélio, possa fazer ‘lobby’ dos nossos anseios, sem distinções quaisquer que sejam, pois independente da farda que envergamos (convencional, rajado urbano ou rural, preta etc.) somos todos policiais ‘lato sensu’.

*Fabiano Santos é estudante de Direito e Aluno-à-oficial da APM, atualmente no 2º ano.

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